English Pale Ale - O equilíbrio perfeito entre malte e lúpulo

English Pale Ale - O equilíbrio perfeito entre malte e lúpulo

Hoje vamos falar da cerveja English Pale Ale. Por volta de 1640, novas técnicas de malteação (processo que transforma cereais em malte) começaram a ser pesquisadas e exploradas, buscando um maior controle do nível de torrefação dos grãos com o propósito de produzir cervejas com colorações mais claras do que as vistas até então.

Alguns anos depois, na região de Burton-on-Trent, na Inglaterra, cervejeiros começaram a fabricar brejas com esses maltes menos torrados e mais claros, as quais foram batizadas de Pale Ales – e esse nome, que apareceu pela primeira vez em 1703, já diz muito sobre elas.

O termo "Pale" em inglês significa "pálido" e Ale é a família de cervejas de alta fermentação. Ou seja, a Pale Ale surgiu como uma "cerveja clara" para os padrões da época, por exemplo quando comparadas às escuras e opacas Brown Ales muito consumidas naquele período. Mas, obviamente, as brejas produzidas no início do século XVIII eram bem diferentes das que encontramos hoje.

Munich Dunkel – Tons escuros nas Lagers alemãs

Elas começaram a se aproximar do que temos atualmente em nossos copos a partir da Revolução Industrial, na segunda metade desse mesmo século, quando madeira e carvão foram deixados cada vez mais de lado como combustíveis e ocorreu o aperfeiçoamento acelerado de ligas metálicas para a confecção dos equipamentos produtivos. Com isso, além de maltes ainda mais claros, eliminou-se a característica de defumado desse ingrediente fundamental do líquido sagrado.

Ganhando nacionalidade e polêmica

As Pale Ales tomaram conta do mercado inglês lá pelos anos 1850, determinando o estilo como English Pale Ale. Contudo, se você encontrar alguém por aí chamando ele de Bitter, não estranhe. Não há um consenso sobre a distinção desses termos e seus respectivos estilos.

Alguns especialistas assumem que se trata de uma mesma categoria. Inclusive, no guia de estilo Beer Judge Certification Program (BJCP) são descritas apenas as Bitters como sendo originadas a partir das English Pale Ales. Em contrapartida, o documento da Brewers Association (BA) descreve os estilos individualmente.

Pessoalmente, acredito na linha da distinção apresentada por Randy Mosher e Garrett Oliver, dois dos principais autores sobre cervejas do mundo. De acordo com suas pesquisas, ambos têm o entendimento de que Bitter é a cerveja inglesa quando mantida e servida a partir de barris, e Pale Ale quando filtrada e engarrafada.

O importante é quando está no copo

Colocando a teoria de lado e partindo pra parte prática, que é o que realmente importa, de maneira geral uma English Pale Ale possui coloração de dourada-escura a âmbar-escura (cobre), sendo límpida e brilhante, de corpo médio e teor alcoólico que fica entre 3% e 7%.

Geralmente, as brejas desse estilo possuem carbonatação baixa ou moderada, portanto não espere formação de espuma alta. O destaque desse tipo de cerveja é o equilíbrio entre malte e lúpulo, promovendo uma experiência muito agradável de degustação.

O malte fica responsável por trazer notas de pão, biscoito, leve tostado e caramelo – que é a marca registrada do estilo e deve ser perceptível com suavidade no aroma e ganhar potência no sabor.

Por sua vez, o lúpulo promove amargor de médio a alto, mas sem excessos que acabam sobrepondo as características do malte, aliado a aspectos sensoriais terrosos, resinosos, frutados ou florais. O final seco é o arremate final para um altíssimo drinkability, ou seja, cervejas muito fáceis de serem bebidas!

Escala de intensidade

As English Pale Ales, ou Bitters, possuem 3 variações clássicas que basicamente são distintas pela intensidade de aromas e sabores, nível de amargor e teor alcoólico.

Ordinary Bitter (ou Standard Bitter): cerveja de cor âmbar-clara com delicados aromas e sabores de malte, especialmente de biscoito, com notas florais e herbais tradicionais dos lúpulos ingleses. Possui baixo dulçor e amargor, além de corpo baixo. É a versão mais leve entre elas.

Best Bitter (ou Special Bitter): a coloração âmbar ganha leve intensificação, bem como os aromas e sabores. Aqui as notas de caramelo começam a ficar mais perceptíveis, equilibradas com o aumento proporcional de amargor e corpo.

Strong Bitter (ou Extra Special Bitter): brejas desse tipo possuem cor mais escura, chegando a tons de cobre. Tanto no aroma quanto no sabor, as notas de caramelo e toffee dos maltes ganham destaque. O dulçor é "segurado" pelo amargor mais pronunciado e a intensificação das nuances florais e herbais. Ganhou a denominação de Extra Special Bitter, ou apenas ESB, graças a popularização do rótulo de mesmo nome da Fuller’s.

A Escola Inglesa, ou Britânica, é conhecida pelo equilíbrio de seus estilos e perfis "elegantes" de sabores. As English Pale Ales são provas disso: cervejas saborosas, com notas variadas mas perceptíveis e leves, combinando muito bem com diversas ocasiões e harmonizando com vários pratos. E aí, está com água na boca por uma Bitter?

Cheers!

BOX1

Se você tiver interesse em procurar por uma clássica English Pale Ale, segue uma relação com alguns dos rótulos que são referência entre o estilo e suas subcategorias. Inclusive, alguns deles estão no departamento do estilo no Clube do Malte, o qual você pode acessar clicando AQUI!

  • Fullers London Pride
  • Fullers ESB
  • Wells Bombardier
  • Old Speckled Hen
  • Shepherd Neame Spitfire
  • Coopers Original Pale Ale

Outra curiosidade sobre as cervejas inglesas é a chamada Real Ale. Para ser considerada uma breja do estilo, ela pode ser servida apenas em temperatura ambiente no balcão do pub (que geralmente é o produtor) por pressão natural, ou seja, somente por atuação da gravidade ou bombeamento manual.

Além disso, as versões de Pale Ales em garrafas ou kegs feitas para exportação, na maioria das vezes, são mais alcoólicas e carbonatadas do que as versões em barris engatados nos tradicionais bares ingleses.

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