O mercado cervejeiro e a pandemia - parte 2
Além da pesquisa com os consumidores, conversamos com alguns profissionais do mercado cervejeiro para entender como lidaram com a pandemia em 2020.
Qual foi o principal desafio da marca no ano de 2020 com a pandemia?
Amanda Reitenbach - CEO do Science of Beer. Foto: arquivo pessoal Amanda Reitenbach: Saber lidar e inovar na impermanência. E que para a riqueza e crescimento temos que entender que a natureza de todo fenômeno é a impermanência. Se você estiver desperto e atento, o único caminho é crescer e evoluir. Luiza Lugli Tolosa: O maior desafio foi continuar próximo aos nossos clientes consumidores finais, especialmente. Como não tivemos eventos ou a possibilidade de ir aos bares, foi difícil manter esta relação direta com os clientes. Mas, através de eventos online e mídias sociais, conseguimos estar um pouco mais próximos. Maíra Kimura: O principal desafio foi lidar com uma queda abrupta e repentina de faturamento, já que vários bares e restaurantes tiveram que fechar e havia muita incerteza, mesmo os que continuavam abertos em esquema de delivery e retirada, não estavam comprando quase nada - com razão! Uma questão importante também foi que tínhamos um estoque de chope que era normal dentro do nosso planejamento, mas que acabou ficando muito tempo pra girar, já que a maioria dos estabelecimentos que estavam abertos começaram a comprar bem mais latas e garrafas em detrimento de barris de chope. Marcelo Magnabosco: A pandemia provocou um impacto generalizado na cadeia produtiva cervejeira, mas para a Abadia o principal desafio foi o fechamento dos principais canais de distribuição, bares e restaurantes. Devido ao nosso porte, não estávamos inseridos nas grandes cadeias de supermercados e não tínhamos um setor dedicado ao delivery. Mas com o passar dos meses outros problemas começaram a surgir, como o fornecimento de insumos que se tornaram escassos e mais caros, por exemplo. Rodrigo Ferraro: Nosso principal desafio foi manter a empresa aberta. O bom relacionamento com todos os nossos fornecedores, desenvolvido por uma década, nos proporcionou o fortalecimento de parcerias que foram além de cliente/fornecedor, mostrando o quanto foi importante sermos sempre sérios e cumpridores de nossas obrigações desde o primeiro dia de abertura da Irmãos Ferraro. Outro grande desafio, e orgulho para a Irmãos Ferraro, foi a manutenção de todos os seus funcionários durante a crise, inclusive dando oportunidade a mais uma pessoa, gerando um novo posto de trabalho dentro da empresa. Wellington Alves Filho: O principal desafio foi manter o negócio funcionando, mesmo a passos mais lentos, tendo que se reerguer diante do tombo causado pela pandemia. Muitas das microcervejarias já trabalhavam no limite em um cenário sem o COVID, de modo que com a pandemia instalada muitas tiveram que fechar. Foi triste ver sonhos destruídos de maneira tão abrupta. Tudo isso sem levar em conta a situação de saúde de muitos colegas, amigos e parentes que pegaram a doença. Nessas horas o fundamental é manter a saúde mental e física, tentando trazer alguma coisa produtiva para os seus negóciosComo vocês lidaram com as dificuldades vindas com a pandemia? Quais as soluções que encontraram para driblar a crise? Que ações de fato foram tomadas?
Amanda Reitenbach: “Quando aparecer um deserto, atravessa ele”- disse Ailton Krenak, líder indígena, escritor e ativista. E assim atravessamos o desértico 2020, com muita sede! No ano do sol, ele esquentou, iluminou as mais duras sombras e resgatou em nós a consciência e a importância de nos mantermos conectados, independente do cenário que o mundo e as adversidades nos apresente. Conseguimos! Nos reunimos, realizamos e criamos juntos”. Esse foi o trecho de encerramento do Beer Summit e que traz muito do que vivemos nesse último ano. Nossas ações foram focadas em manter as atividades do Science of Beer e Beer Summit na forma digital, com segurança e com experiências educativas reformuladas para esse formato. Desafiador! Mas crescemos, aprendemos e encontramos o caminho para continuar levando educação cervejeira ao mundo todo de forma atrativa e muito responsável. Luiza Lugli Tolosa - sócia-fundadora da Cervejaria Dádiva. Foto: Tales Hidequi Luiza Lugli Tolosa: Com certeza o fechamento dos bares, o nosso maior canal, foi bem impactante. Em alguns meses, tanto os clientes donos de bares, quanto os consumidores finais entenderam a nova dinâmica e que podiam garantir a sua cerveja artesanal, fresca, inclusive os lançamentos, na sua casa. As lives ajudaram a apresentar os produtos a ainda mais gente. Fizemos algumas lives com consumidores finais que foram bastante empolgantes. Também lançamos o nosso e-commerce, com o objetivo de oferecer packs de 12 unidades aos amantes dos estilos, e acessórios da Dádiva. Maíra Kimura: Nós fizemos algumas ações junto com os pontos de venda para incentivar vendas e também começamos a fazer algumas ações de divulgação da marca. Outra coisa que fizemos foi lançar nossa loja online, a Arigatou, com produtos relacionados à Japas. Nela, vendemos camisetas, bonés, pins, bolsas. Isso também ajudou a termos um faturamento um pouco melhor. Marcelo Magnabosco: Nas primeiras semanas do lockdown nós paramos todas as atividades na cervejaria, nossa prioridade era e ainda é a saúde dos nossos colaboradores. Depois começamos a pensar de que forma iríamos distribuir nossos produtos, garrafas e barris, para que pudéssemos honrar os compromissos financeiros. A resposta foi fazer ações e conteúdos pensados exclusivamente para o cliente final, oferecendo delivery de garrafas com frete grátis, seguindo todos os protocolos de proteção à saúde, pontos de delivery de chopp em PDV’s parceiros e fortalecendo a parceria com e-commerces como o Clube do Malte. Rodrigo Ferraro: As dificuldades do setor cervejeiro foram apenas um reflexo de toda a sociedade mundial. Lidar com crises é uma forma de fortalecer e blindar a empresa. Nossas soluções principais foram as negociações diretas com todo a cadeia de fornecedores, tanto de insumos, como de materiais do dia a dia e, principalmente, olhar para dentro da empresa e ver o que estava errado, no que se gastava demais e sem necessidade e controlar a gestão total do negócio de uma maneira que qualquer real gasto fosse justificado. Wellington Alves Filho - sócio proprietário da cervejaria 5 Elementos.Foto: arquivo pessoal Wellington Alves Filho: Tivemos que readaptar as nossas produções, tanto em quantidade, quanto ao tipo de cerveja produzida. Durante a pandemia tivemos um decréscimo no primeiro momento no volume entregue para bares especializados, ficando as atenções mais voltadas para o varejo de supermercados e alguns pontos de delivery. O e-commerce funcionou bem nesse período. Essa mudança de estratégia reflete claramente o perfil de consumo durante a pandemia, obviamente voltado mais para o ambiente domiciliar. Desse modo, otimizamos a produção de estilos que tinham mais saída para esse perfil de cliente.