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BROW ALE

Malte em muita evidência!

Origem:
Grã-Bretanha

Data:
Séc XVII

Se traduzirmos Brown Ale para o português, com uma pegada do dialeto cervejeiro, teremos algo como "cerveja de alta fermentação marrom", ou simplesmente "cerveja marrom". E isso revela muito das características (que falaremos mais para frente) e tradição deste estilo.
O termo Brown Ale tem sido usado desde o século XVII e, naquela época, estava muito associado ao estilo Mild Ale, um tipo de cerveja maltado, fresco, com baixo tempo de maturação e baixo amargor que se popularizou na Grã Bretanha – e que hoje é praticamente uma cerveja esquecida (se encontrar ela por aí, compartilhe a fonte com a gente!).
O que diferenciava basicamente uma Brown Ale de uma Mild Ale era o uso exclusivo do chamado malte brown, o que dava uma coloração diferenciada e mais escura, além de reforçar alguns aspectos sensoriais da bebida.

Paleta de cores marrom

Contudo, o entendimento do que realmente era uma Brown Ale não era muito claro até então, isso porque a maioria das cervejas tinham esse aspecto marrom e turvo. Isso acontecia devido ao processo de secagem dos grãos, uma das etapas de malteação – que é, grosso modo, transformar a cevada em "malte".
Como você deve imaginar, há centenas de anos os equipamentos, processos e técnicas eram rudimentares perto do que temos hoje. A secagem dos grãos não tinha um controle apurado e era feito a partir da queima de lenha. O resultado? Quase todos os tipos de malte ganhavam aspecto de torrefação mais elevado (escuro) e carregavam alguma carga de defumação, já que a fumaça atingia diretamente os grãos.
Mas foi ali pelo fim do século XVII que alguns cervejeiros de Londres começaram a usar palha para alimentar o fogo durante a secagem dos grãos, reduzindo a intensidade do caráter defumado e proporcionando um aspecto visual mais claro. Assim surgiu o malte brown, mais fácil e barato de se produzir e que se tornou o insumo base para diversos estilos da época – incluindo Porter e Stout.

Montanha-russa de popularidade

Durante muitos anos, a Brown Ale acabou sendo mera coadjuvante nas torneiras dos pubs ingleses. A disputa pelo paladar, copo e moedas dos bebedores da região era forte com o surgimento de outras brejas como Bitters, Porter e Stout.
Isso começa a mudar em 1902, quando a "marronzinha" ganha notoriedade com uma receita criada pela cervejaria Albion Brewery, localizada em Londres. A Mann’s Brown Ale invadiu o mercado oferecendo traços melhores definidos e marcantes para o estilo, incluindo um rico sabor de malte, com destaque para o dulçor e notas de chocolate e tosta. Inclusive, os marketeiros promoviam ela como "a cerveja mais adocicada de Londres".
O governo britânico, impulsionado pela Primeira Guerra Mundial, também deu sua contribuição para ajudar na popularização da Brown Ale. Por volta de 1914, iniciativas dos líderes do país orientavam ao consumo de bebidas menos alcoólicas (e a Mann’s Brown Ale com seus 2,8% de teor alcoólico caiu como uma luva) por dois motivos:
1. Economizar insumos;
2. Ninguém gostaria de iniciar uma batalha com soldados embriagados.

A hegemonia da Mann's durou até 1927, quando apareceu uma concorrente de peso, a Newcastle Brown Ale, para dividir o mercado das Brown Ales na Inglaterra. Com um aspecto final mais seco e com teor alcoólico um pouco mais elevado, o rótulo da Newcastle dominou a parte norte do país, enquanto a versão mais adocicada da Mann's predominou na região sul. Tanto que o estilo foi segmentado em Brown Ale do Norte e do Sul.
Com o fim das disputas bélicas e o refinamento de outros estilos, esse sucesso da "marronzinha" não durou muito. Alguns anos depois o seu consumo caiu bastante, sendo retomado novamente somente com a Revolução da Cerveja Artesanal puxada principalmente pelos norte-americanos entre as décadas de 60 e 70.
Esse movimento originou uma versão da Brown Ale tradicional (que tem sido chamada de English Brown Ale) na terra do Tio Sam, a qual foi denominada American Brown Ale.

Bom, não é preciso ter uma bola de cristal para adivinhar que a cor de uma Brown Ale gira em torno do marrom, podendo ter algumas cervejas que puxam mais para o âmbar (como se fosse um alaranjado ou cobre) e outras quase chegando à cor negra.
Diferente das cervejas do estilo no século XVII, hoje em dia elas são límpidas e apresentam baixa ou moderada formação de uma espuma bege e cremosa, o que se deve a sua média carbonatação. Então não espere aquele baita colarinho ao colocar uma Brown Ale no seu copo.

O malte é a grande estrela neste estilo, proporcionando aromas como panificação, caramelo, toffee, nozes e chocolate. A intensidade dessas notas vai depender da mão do cervejeiro na hora de elaborar a receita. Ao colocar uma Brown Ale na boca, você pode perceber, além dessas notas presentes no aroma, o dulçor promovido pelo malte e até um leve amargor de tosta, dependendo do nível de torrefação dos maltes usados.
Na prática, a Brown Ale não é uma cerveja que se tornará uma das preferidas dos lupulomaníacos. Aromas e sabores florais ou terrosos dos clássicos lúpulos ingleses até podem aparecer, mas serão sutis e permanecerão em segundo plano.
Apesar de ter um dulçor aparente, o corpo médio, o final moderadamente seco e a graduação alcoólica relativamente baixa (de 2,8% a 5,4%) ajudam a fazer com que a Brown Ale não seja, de maneira geral, enjoativa. Aquele docinho é percebido, mas esse tipo de breja é leve quando colocada na boca.

COPO SUGERIDO:
Mug ou Pint

TEMPERATURA IDEAL:
De 8 a 12°C

Até mesmo pela sua origem de produção e consumo, como comentamos lá no tópico de história, a Brown Ale não exige qualquer ritual ou técnica diferenciada para ser servida. Então, não tem frescura: é pegar o copo e colocar ela dentro.
Para evitar formação exagerada de espuma, dependo do copo usado, você pode adotar aquele procedimento básico que consiste em:
1. Posicionar o copo na diagonal, com uma angulação de 45º;
2. Começar a despejar o líquido nele até que seja preenchido até a metade;
3. Reposicionar o copo para a vertical e terminar de completá-lo;
4. Aí é só alegria!
Tecnicamente falando, para uma melhor apresentação e apreciação da Brown Ale, ela deve ser servida em temperaturas que variam de 8 a 12 ºC, explorando ao máximo os aromas e sabores do malte que se sobressaem em temperaturas não tão baixas.

Os tipos de copos ideias são o Mug, aquele canecão parrudo e com alça que cabe até 1 litro de breja, e o Pint, o tradicional recipiente dos pubs ingleses e americanos (mas que têm se popularizado nos bares brasileiros) com a boca mais larga que que a base e aquela saliência logo abaixo da borda.

CARNE ASSADA

NACHOS

QUEIJOS

Os mestres da harmonização consideram a Brown Ale como uma das cervejas mais versáteis na hora de combinar aromas e sabores com pratos das mais diversas origens culinárias.
Por exemplo, o seu dulçor evidente combina muito bem com carnes preparadas de diferentes maneiras, principalmente assadas. Ela pode acompanhar inclusive carnes mais exóticas, como javali, codorna e faisão. Portanto, uma Brown Ale pode fazer a diferença no churrascão de domingo, tomando apenas cuidado para não pesar no adocicado caso pretenda usar molhos mais doces.

Pratos com aspectos mais terrosos, como aqueles que ressaltam cogumelos, e que carreguem acidez e picância também fazem uma bela harmonização com Brown Ales. Se for preparar um lombo suíno marinado no limão ou nachos mexicanos, vale a pena cogitar abrir uma “marronzinha” para acompanhar, pois ela ajuda a equilibrar esses aspectos com todo o seu dulçor.
Cerveja e queijo formam um casal irresistível, e as Brown Ales vão proporcionar uma experiência deliciosa de degustação com gouda, gorgonzola, stilton e outros queijos curados. Pra fechar com chave de ouro, ou talvez de bronze nesse caso pela similaridade de cor, este estilo dá um suporte saboroso para sobremesas não muito doces, incluindo bolos de amêndoas ou que levem chocolate meio amargo e sorvetes de baunilha ou café. Contudo, por ter um dulçor característico e evidente, a própria Brown Ale pode ser a sua sobremesa, por que não?

Brow Ale

Impressão Geral: Uma Ale britânica maltada, marrom, orientada para o caramelo sem os sabores tostados de uma Porter.

Aroma: Suave a moderado aroma de malte com notas de toffee, nozes ou leve chocolate, e uma característica de caramelo, indo de leve a muito intensa. Um leve mas atraente aroma de lúpulo, floral ou terroso, pode ser evidente. Um aroma frutado suave pode ser evidente, mas não deve dominar.

Aparência: mbar escuro a marrom-avermelhado escuro. Límpida. Baixa a moderada formação de espuma bege-clara a leve bronzeado.

Sabor: Leve a moderado dulçor de malte, com caráter de caramelo suave a muito intenso, e com um final equilibrado (médio) a seco. O malte também pode dar um caráter de nutty (nozes, amêndoas e castanhas), tostado, biscoito, toffee e suave chocolate. Amargor médio a médio-baixo. O balanço de maltes e lúpulos varia até se concentrar no malte; sabor de lúpulo baixo a nenhum (de qualidades florais ou terrosas, se presente). Ésteres baixos a moderados podem estar presentes.

Sensação de Boca: Corpo médio-baixo a médio. Carbonatação média a média-alta.

Estatística Vital:
OG: 1040-1052
FG: 1008-1013
SRM: 12-22
IBU: 20-30
ABV: 4,2-5,4%