Harmonização com India Pale Ale

Aprenda a harmonizar uma boa e amarga cerveja IPA - India Pale Ale com diversas preparações de alimentos para surpreender na cozinha.

Gastro Beer Ago 12, 2022 0 94 Adicionar a Lista de Leitura

Chegou o dia dela, a IPA! Vamos falar da rainha das cervejas artesanais e especiais. Aquela que, sozinha, abocanha mais de 70% do mercado consumidor. A que tem nomenclatura para fãs: se você é um Hop Head, ou um Ipeiro (no popular) essa edição é para você! No geral, a versão mais consumida é a americana, a American IPA, mas a IPA não é originária dos Estados Unidos, muito menos tem em sua origem esse aroma maravilhoso de frutas cítricas e tropicais. Ela vem tradicionalmente da Inglaterra, e as lendas sobre sua origem são muitas, você conhece alguma? Então deixa eu te contar! Em 1612 os primeiros navios britânicos chegaram à Índia. Ficaram conhecidos como Companhia Inglesa das Índias Orientais. Era, obviamente, uma expedição liderada pela aristocracia inglesa, sedenta para montar em elefantes e caçar animais raros. Com a Revolução industrial (entre 1760 e 1840), a Coroa Britânica passou a exportar tecido para a Índia através da Companhia Inglesa das Índias Orientais, com isso a Índia acabou tornando-se colônia da Inglaterra em meados do século XVIII. Junto com o tecido, houve uma invasão de outros produtos ingleses: bens de consumo, alimentos e adivinha só? A Cerveja!

Origem da IPA

A Porter clássica, foi a escolhida para a viagem, mas ela nunca chegava boa no destino, então decidiram trabalhar a Pale Ale. Diversos barris de Pale Ale foram mandados de navio para a Índia, que já era uma das colônias mais importantes da Inglaterra, mas as condições da viagem, as desventuras do mar, o tempo que a cerveja ficava no barril, a variação térmica no navio e outros fatores adversos fazia com que o produto que chegava no porto não fosse de boa qualidade. A solução era conhecida desde o século XI: o lúpulo. O lúpulo servia para dar amargor e aroma, além de conservar a cerveja. Uma das história mais contadas até então sobre a origem do estilo, diz que um cervejeiro londrino chamado George Hodgson, teve a ideia de aumentar o teor alcoólico e a carga de lúpulo para fazer com que a cerveja chegasse maravilhosa aos copos dos colonos ingleses na Índia. Mas hoje, alguns historiadores questionam essa história, dizem que havia registros de cervejas super lupuladas antes da colonização da índia e que tanto a cerveja Porter quanto a Pale Ale já eram exportadas com êxito para a Índia desde 1711. Outro fato é que ainda no século XI, na região de Hallertau (atual Alemanha) uma freira chamada Hildegard von Bingen já havia descoberto que o lúpulo servia para dar amargor, aroma, e também servia como conservante da cerveja. Neste caso, os dados mostram que não há evidências de que o estilo foi criado por alguém, mas que, muito possivelmente, tenha sido desenvolvido e aprimorado com o tempo. E como não há consenso, questionamos o porquê tem o sufixo Índia em seu nome para denominar uma variação de Pale Ale. Sendo assim, ao som de “Canção de um velho marujo” do Renato Godá vamos às harmonizações levando em conta os parâmetros clássicos: equilíbrio de forças, semelhança, contraste e complementação.

Equilíbrio de forças

Se levarmos em conta o equilíbrio de forças, e sendo a IPA uma cerveja bastante intensa, pratos mais fortes são bem vindos aqui. Nada de peixe ou saladas, mas uma boa feijoada, pizzas e queijos como gorgonzola vão muito bem.

Semelhança

Por semelhança precisaremos observar questões como perfil do malte e do lúpulo. Por exemplo: levando em conta o maltado levemente tostado, remetendo a caramelo e casca de pão, vai se assemelhar bastante com carnes, se você temperá-las com ervas vai dar um plus por conta do perfil de lúpulo inglês.

Contraste

Por contraste, temos o amargor que contrasta maravilhosamente bem com o dulçor. Se quiser ousar com um chocolate, por exemplo, pode pensar em um chocolate ao leite. Ou de repente em comidas mais untuosas por conta do dulçor da gordura. A culinária nordestina tem muito a oferecer como buchada de bode, acarajé, maniçoba e etc.

Complementação

Para exemplificar a complementação vou trazer uma harmonização clássica para a IPA. Pensemos num maravilhoso hambúrguer artesanal. No fim das contas, ele vai se equilibrar com a cerveja por força, vai assemelhar-se por conta da carne na grelha (que assumirá sabores caramelados por conta da reação de sabor, conhecida como reação de Maillard), também vai contrastar o dulçor da gordura dos queijos e da carne com o amargor da cerveja, assim como o herbal e o floral do perfil do lúpulo inglês vai complementar seu hambúrguer temperado como se fosse um toque final de ervas. Diante disso, seja feliz com sua breja, mas vai com calma porque se a IPA é uma rainha, se você abusar dela ela é capaz de arrancar cabeças. SAÚDE!>