Era o meu primeiro dia, pelo menos nessa viagem, em
Achouffe, uma aldeia na cidade de Houffalize, na região da Valônia, no sul da Bélgica, próxima à fronteira com Luxemburgo. Eu e minha esposa havíamos chegado na noite anterior, após 4 horas de viagem de Paris e algumas peripécias em um bar local. Tomamos um delicioso café da manhã e nos aprontamos para enfrentar a sensação térmica de -16ºC, que em nada diminuiu a empolgação de iniciar a jornada cervejeira do dia. Ainda houve tempo de degustar uma cerveja local da
Brasserie Inter-pol, uma nanocervejaria anexa às instalações da pousada em que nos hospedamos. Entramos no carro e partimos. A cervejaria do nosso destino, a
Brasserie Lupulus, ficava a menos de 20 minutos da pousada e o caminho, que passava por pequenos vilarejos e fazendas, estava pintado de neve. O cenário era realmente maravilhoso.
Desbravando a cervejaria
Chegamos pontualmente às 10 da manhã e fomos recebidos pela guia da cervejaria, a apaixonada por cerveja e adorável Chris Van de Voorde. A visita começou com a história da cervejaria, atualmente
Brasserie Lupulus, mas que antes era denominada
Brasserie Les 3 Fourquets – algo como As 3 Pás Cervejeiras. Foi fundada em 2004 por Pierre Gobron e Chris Bauweraerts, os mesmos fundadores da Brasserie d’Achouffe (sim, aquela dos gnomos), e foi concebida inicialmente para testes de receitas, além de atender a demanda de uma taberna próxima ao local. Em 2006 a
Brasserie d’Achouffe foi integralmente adquirida pela
Duvel Moortgat, mas a
Lupulus permaneceu totalmente independente. No acordo de compra foi permitido à Les 3 Fourquets produzir 150 mil litros por ano até 2011. Em 2008 o sócio Bauweraerts vendeu sua parte e a cervejaria passou a ser administrada por Pierre e seus dois filhos, que permaneceram aprimorando as receitas da família – por isso a alusão às três pás cervejeiras.
Após essa viagem pelo tempo, fomos conhecer a fábrica. As instalações são todas muito novas e, lógico, tudo muito bem cuidado e limpo. Apesar de não ser grande, a fábrica produz anualmente 1.500.000 litros da nossa felicidade em forma líquida. A cada setor que passávamos a guia contava histórias das receitas e como elas nasceram, o que aumentava ainda mais a vontade de degustar as cervejas, que para mim eram inéditas. O ponto alto do tour na fábrica foi a sala de maturação: após o envase, as cervejas ficam 21 dias refermentando na garrafa em uma sala exclusiva com temperatura controlada entre 21 e 23 graus. Somente depois desse tempo é que são dadas como prontas.
Momento degustação
Como todo bom
tour belga termina em cerveja, esse não poderia ser diferente. Depois de conhecer cada detalhe da fábrica, comer malte e cheirar todos os ingredientes que a Chris nos apresentava, fomos enfim degustar os cinco principais rótulos da cervejaria. Sentamos à mesa com um casal de amigos que tivemos o prazer de dividir ótimos momentos nessa
trip cervejeira e um casal belga de Bruxelas, que conhecemos na hora. A guia começou nos servindo a
Lupulus Blanche, uma
Witbier de 4,5%, muito clássica e belo exemplar do estilo. Na sequência degustamos a
Lupulus Hopera, uma belíssima
Belgian Pale Ale de 6%, cuja receita foi idealizada pelos dois filhos de Pierre e leva lúpulos americanos. A ideia por trás da cerveja é inserir no mercado belga uma receita clássica com o toque cítrico de
lúpulo do novo mundo. Na sequência degustamos a
Lupulus Brune, uma excelente
Belgian Dark Strong Ale de 8,5%. Nada como beber direto da fonte.
Obviamente que, depois dessas três cervejas, já éramos amigos dos bruxelenses. Trocamos contatos e atrapalhamos a apresentação da Chris, que nos trazia a
Lupulus Blonde, a
Tripel da casa com 8,5% e adição de tomilho na receita. Pode parecer estranho, mas a especiaria ficou incrivelmente bem inserida na cerveja. Por último ficou a mais complexa de todas: a
Lupulus Hibernatus, uma
Winter Ale com 9% de teor alcoólico e que leva canela no fim da fervura. Uma verdadeira iguaria que harmonizou perfeitamente com aquele dia frio. Antes de servir, a Chris nos explicou que, diferentemente das demais, essa cerveja deve ser servida com a levedura, dando um toque condimentado especial.
A essa altura já tínhamos agendado confraria com o casal belga e a Chris sentou à mesa conosco, onde fizemos questão de terminar cada uma das garrafas servidas enquanto os demais visitantes iam embora. Por fim, deixamos o orçamento do dia inteiro na loja e seguimos felizes da vida para a
Brasserie Fantôme.
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