Um paraíso chamado Westmalle
Domingo não é dia de acordar cedo, a não ser que você esteja na Bélgica e seja dia de conhecer o monastério de Westmalle.
Domingo não é dia de acordar cedo, a não ser que você esteja na Bélgica e seja dia de conhecer o monastério de Westmalle. Eu já estava super empolgado porque tinha passado a noite anterior no Kulminator. Estávamos hospedados no Ibis, no centro de Antuérpia, e uma das coisas que gosto muito nas cidades grandes é tomar café da manhã como os locais. Então comemos uma deliciosa baguete com jámon – os franceses que me desculpem, mas os belgas sabem comer bem – em uma padaria próxima ao hotel e já partimos para a estrada.
Não sabia bem o que esperar da visita, pois o monastério é fechado e não há como conhecer a cervejaria. Fica a apenas 30 minutos do centro de Antuérpia e o trajeto como sempre muito agradável, passando por pequenos vilarejos e áreas rurais. Chegando próximo, da estrada já era possível ver um grande muro de tijolo à vista com pequenas edificações, bem característica dos mosteiros. Coração de cervejeiro ansioso já começa a bater forte.
Passamos pelo Cafe Trappisten, que fica em frente à abadia, do outro lado da estrada, onde tínhamos programado almoçar e degustar as belezinhas na fonte. Seguimos mais um pouco e viramos na estradinha que dá acesso ao mosteiro. O cenário era realmente deslumbrante: a Westmalle fica no meio de um descampado rodeado por árvores que formam uma alameda para passeio de bicicleta ou a pé. Margeando a abadia, um rio de água cristalina - é a mesma água usada pela cervejaria, dizem por aí. Como ainda era cedo, nos juntamos a alguns poucos locais em uma caminhada matinal ao redor das instalações. A paz deste lugar é algo indescritível. Você está em um ambiente sereno e tranquilo, mas ao mesmo tempo está prestes a tomar cervejas de referência mundial em seus estilos. Para mim, esta é a descrição do paraíso.
Nada deixa a desejar
Como esperado, o monastério estava fechado para visitação. Então, como ótimo fã trapista que sou, passei por todos os pontos permitidos: entrada da cervejaria, do mosteiro e da igreja que, aparentemente, abre em algum horário para cultos públicos. Sei que é chover no molhado, mas tudo ali é muito bem cuidado e bonito – qualquer semelhança com a cerveja não é mera coincidência.
Estava chegando próximo ao horário do almoço e, portanto, o Cafe Trappisten já deveria estar aberto. De alma lavada, era momento de molhar a garganta degustando as renomadas cervejas trapistas. Logo que entrei assisti a um vídeo institucional da abadia e me senti um verdadeiro monástico. Para iniciar os trabalhos, comecei com uma cerveja que só é acessível de duas maneiras: sendo um verdadeiro monge da Westmalle ou pedindo no Cafe Trappisten. É a Westmalle Extra, uma cerveja do estilo Trappist Single com apenas 4,8% de teor alcoólico e produzida apenas duas vezes ao ano para consumo próprio dentro do monastério.
Na sequência, como não podia deixar de ser diferente, pedi o combo com uma Westmalle Dubbel e uma Westmalle Tripel, que são as duas cervejas de linha da abadia. Já havia tomado as duas em garrafas, mas tomar fresquinhas e produzidas do outro lado da estrada, deixou os rótulos ainda mais saborosos e especiais. Um parênteses para uma situação que me chama a atenção na Bélgica: é comum os bares trazerem a partir da segunda rodada algum tira gosto para acompanhar a bebida. Dessa vez um mix de nuts salgados e bem apetitosos.
E não para por aí!
Com as duas delícias da casa devidamente apreciadas, resolvi pedir uma cerveja que também é exclusividade do Cafe Trappisten, mas que você consegue replicar em casa: Westmalle half-half, que é um blend com metade da dubbel e metade da tripel. Honestamente, acho que a cervejaria deveria lançar como rótulo comercial, afinal de contas não tem como misturar duas cervejas maravilhosas e não ficar fantástico.
Para finalizar e acompanhar o almoço - só porque ainda não aprendi a viver de cerveja - pedi uma Zundert, a única cerveja disponível além da Westmalle e que também é uma trapista, mas produzida na Holanda, bem perto dali. Até então não havia tomado esse rótulo, o que também surpreendeu positivamente. Definitivamente os monges entendem do negócio.
Mosteiros Trapistas que produzem cervejas
E assim chegou a hora de ir embora. Cinco cervejas trapistas degustadas e muita alegria no coração cervejeiro. A tarde tinha acabado de começar e eu nem imaginava que este dia ia terminar em um festival de rua de cervejas em Antuérpia, fazendo amizades inesperadas. Mas essa é uma outra história.
Até a próxima, santé!>